Ficha de Inventário

Fariseu/Rocha 1

  • Museu: Museu do Côa
  • Nº de Inventário: Fariseu - Registo 2
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Arte parietal
  • Dimensões (cm): Alt. 410 x Larg. 470
  • Descrição: A rocha 1 do Fariseu é uma das mais notáveis rochas decoradas da arte do Côa, pelo seu vasto painel vertical quase integralmente coberto por um denso aglomerado de sobreposições de mais de uma centena de figuras paleolíticas, e pelo seu fundamental papel na confirmação da cronologia Paleolítica das gravuras mais antigas da arte do Côa e estabelecimento do seu faseamento, através da escavação arqueológica realizada com a descoberta de estratos sedimentares paleolíticos a cobrir parte do painel decorado. É um afloramento de xisto, localizado na orla inferior da encosta do Monte Fariseu, com o terraço fluvial na base deste, 60 metros a jusante (Norte) do encontro da ribeira do Fariseu com o terraço fluvial, onde a ribeira abandona o vale escavado e se abre nos metros finais do terraço aplanado até atingir o Côa. Imediatamente ao lado e para cima encontra-se a rocha 6, e em frente do painel decorado encontra-se a rocha 19. O afloramento apresenta uma diáclase vertical onde foi realizada toda a decoração, orientada a Sudeste e obliquamente para o Côa. A decoração preenche quase toda a vasta superfície vertical do afloramento e, numa situação, estende-se também para a superfície lateral de xistosidade oblíqua à diáclase. Foi toda realizada por gravação, pelas técnicas da picotagem, abrasão e incisão. As duas primeiras são maioritárias, podendo aparecer isoladas ou em conjunção uma com a outra, enquanto que a incisão é também utilizada como complemento de algumas figuras maiores em picotagem e/ou abrasão, mas aparecendo também isoladamente nalgumas figuras. Incluindo um conjunto de mais de uma dezena de feixes de traços incisos, contam-se mais de uma centena de figuras, maioritariamente colocadas em densas e aparentemente caóticas sequências de sobreposições. Tanto pela homogeneidade estilística como pelas informações obtidas na correlação entre o painel decorado e a estratigrafia paleolítica que o cobre é possível afirmar que todo o conjunto gravado pertence à fase inicial do Paleolítico Superior da região do Côa, o Gravetto/Solutrense. Uma eventual excepção poderá ser uma pequena figura picotada, na parte superior do painel que não foi oculta por estratos paleolíticos, de forma tendencialmente rectangular e de aspecto vagamente antropomórfico, e que poderá eventualmente ser mais recente, embora seja igualmente possível que se trate de um signo paleolítico conectado com as restantes figuras. É de notar o relativo equilíbrio quantitativo das quatro principais espécies animais da arte Paleolítica, com ligeira menor quantidade de cervídeos (uma dezena) e números equivalentes de caprinos, auroques e cavalos (cerca de uma vintena, ou ligeiramente menos), a que se juntam quatro camurças e grande quantidade de quadrúpedes indeterminados. É de realçar um enorme traço picotado contínuo, que atravessa o painel com cerca de 2 metros de comprimento, e que se assemelha ao dorso de um animal, em parte perdido por fractura, mas aparentemente deliberadamente incompleto. É ainda de realçar a existência de vários casos de aproveitamento de elementos naturais da superfície para complementar figuras, assim como a presença de vários animais picotados com dupla cabeça em movimento: um auroque, dois cavalos e uma camurça.
  • Origem/Historial: A parte superior do painel decorado desta rocha foi inicialmente avistado em 1995, quando o sítio foi primeiramente identificado. Em 1999 procedeu-se à primeira escavação do painel decorado, aproveitando o rebaixamento do nível da água da albufeira do Pocinho. O procedimento repetiu-se em 2005 e 2007, em circunstâncias similares, tendo-se descoberto a totalidade do painel decorado e feito o seu registo integral ao longo das três campanhas de escavação, por fotografia e levantamento gráfico, este já publicado diversas vezes. Foi também feito um levantamento digital em três dimensões, a partir do qual se fez a réplica em tamanho natural colocada em exposição no Museu do Côa. Após cada escavação a rocha voltou a ser tapada e submersa, estado em que se encontra actualmente.

Bibliografia

  • AUBRY, Thierry (ed.) (2009) – “200 séculos da História do Vale do Côa: incursões na vida quotidiana dos caçadores-artistas do Paleolítico”. Lisboa, Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico.
  • AUBRY, Thierry; LUÍS, Luís; SAMPAIO, Jorge Davide (2006) – “Primeira datação absoluta para a arte paleolítica ao ar livre. Os dados do Fariseu (Vila Nova de Foz Côa)”. Al-Madan 14: 48-52.
  • AUBRY, Thierry; SAMPAIO, Jorge Davide (2008) – “Fariseu: cronologia e interpretação funcional do sítio”. In A. C. Lima; A. T. Santos; A. M. Baptista; A. C. Coixão; L. Luís (eds.), Actas das Sessões do III Congresso de Arqueologia de Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior. Vol. 01 – Pré-história. Gestos Intemporais: 7-30. Vila Nova de Foz Côa, Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Freixo de Numão.
  • AUBRY, Thierry; SAMPAIO, Jorge Davide (2008) – “Fariseu: new chronological evidence for open-air Palaeolithic art in the Côa valley (Portugal)”. Antiquity, 82 (316).
  • BAPTISTA, António Martinho (1999) – “No tempo sem tempo: A arte dos caçadores paleolíticos do Vale do Côa. Com uma perspectiva dos ciclos rupestres pós-glaciares”. Vila Nova de Foz Côa, Parque Arqueológico do Vale do Côa/Centro Nacional de Arte Rupestre.
  • BAPTISTA, António Martinho (2009) – “O paradigma perdido. O Vale do Côa e a Arte Paleolítica de ar livre em Portugal”. Vila Nova de Foz Côa, Edições Afrontamento/Parque Arqueológico do Vale do Côa.
  • BAPTISTA, António Martinho; DIEZ, Marcos García (2002) – “L'art paléolithique dans la vallée du Côa (Portugal): La symbolique dans l'organisation d'un sanctuaire de plein air”. In D. Sacchi (ed.), L'art paléolithique à l'air libre: Le paysage modifié par l'image: 187-205. Carcassonne, Groupe Audois d'Etudes Préhistoriques.
  • BAPTISTA, António Martinho; GOMES, Mário Varela (1997) – “Arte Rupestre”. In J. Zilhão (ed.), Arte rupestre e pré-história do Vale do Côa. Trabalhos de 1995-1996: 213-406. Lisboa, Ministério da Cultura.
  • BAPTISTA, António Martinho; REIS, Mário (2008) – “Prospecção da arte rupestre no Vale do Côa e Alto Douro português: ponto da situação em Julho de 2006”. In R. B. Behrmann (ed.), Arte Prehistorico al aire libre en el Sur de Europa: 145-192. Salamanca, Junta de Castilla y Léon.
  • BAPTISTA, António Martinho; SANTOS, André Tomás; CORREIA, Dalila (2008) – “Estruturação simbólica da arte Gravetto-Solutrense em torno do monte do Fariseu (Vale do Côa)”. In A. C. Lima; A. T. Santos; A. M. Baptista; A. C. Coixão; L. Luís (eds.), Actas das Sessões do III Congresso de Arqueologia de Trás-os-Montes, Alto Douro e Beira Interior. Vol. 01 – Pré-história. Gestos Intemporais: 38-61. Vila Nova de Foz Côa, Associação Cultural Desportiva e Recreativa de Freixo de Numão.
  • DIEZ, Marcos García; AUBRY, Thierry (2002) – “Grafismo mueble en el Valle de Côa (Vila Nova de Foz Côa, Portugal): la estación arqueológica de Fariseu”. Zephyrus 55: 157-182.
  • MERCIER, Norbert; VALLADAS, Hélène; Aubry, Thierry; Zilhão, João; JORON, Jean-Louis; REYSS, Jean-Louis; SELLAMI, Farid (2006) – “Fariseu: First confirmed open-air Palaeolithic parietal art site in the Côa Valley (Portugal)”. Antiquity, 80 (310).
  • REIS, Mário (2011) – “Prospecção da arte rupestre do Côa: ponto da situação em Maio de 2009”. In M. A. Rodrigues, A. C. Lima; A. T. Santos (eds.), Actas do V Congresso de Arqueologia – Interior Norte e Centro de Portugal: 11-123. Porto, Caleidoscópio/Direcção Regional de Cultura do Norte.
  • REIS, Mário (2012) – “‘Mil rochas e tal...!’: Inventário dos sítios da arte rupestre do vale do Côa”. Portvgalia 33: 5-72.
  • SANTOS, André Tomás Pinto da Silva e Conceição (2017) – “A arte paleolítica ao ar livre da bacia do Douro à margem direita do Tejo: uma visão de conjunto. Tese de Doutoramento, Universidade do Porto.
  • SANTOS, André Tomás; AUBRY, Thierry; BARBOSA, António Fernando; DIEZ, Marcos García; SAMPAIO, Jorge Davide (2018) – “O final do ciclo gráfico paleolítico do Vale do Côa: A arte móvel do Fariseu (Muxagata, Vila Nova Foz Côa)”. Portvgalia 39: 5-96.
  • AUBRY, Thierry; BARBOSA, António Fernando; LUÍS, Luís; SANTOS, André Tomás; SILVESTRE, Marcelo (2020) – “Vallée du Côa. Des gravures Paléolithiques enfouies sous des niveaux archéologiques”. Archéologia 587: 14-15.
  • AUBRY, Thierry; BARBOSA, António Fernando; LUÍS, Luís; SANTOS, André Tomás; SILVESTRE, Marcelo (2020) – "Into the Daylight". Current World Archaeology 101: 10-11.
  • REIS, Mário (2020) - Imagens fantasmagóricas, silhuetas elusivas: as figuras humanas na arte do Paleolítico Superior da região do Côa. In J. M. Arnaud, C. Neves, A. Martins (eds.), Arqueologia em Portugal: 2020 - Estado da Questão: 537-549. Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses.
  • SANTOS, André Tomás; BARBOSA, António Fernando; LUÍS, Luís; SILVESTRE, Marcelo; AUBRY, Thierry (2020) – “Trabalhos de documentação de arte paleolítica realizados no âmbito do projeto PalæoCôa”. In J. M. Arnaud, C. Neves, A. Martins (eds.), Arqueologia em Portugal: 2020 - Estado da Questão: 523-536. Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses.
  • AUBRY, Thierry; BARBOSA, António Fernando; LUÍS, Luís; SANTOS, André Tomás; SILVESTRE, Marcelo (2020) – " Fariseu, 20 Anos Depois: novidades da arte paleolítica do Côa ". Almadan Online 23 (2): 15-27.

Multimédia

  • Registo FariseuR1 - 01.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 02.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 03.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 04.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 05.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 06.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 07.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 08.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 09.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 10.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 11.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 12.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 13.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 14.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 15.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 16.jpg

    Imagem
  • Registo FariseuR1 - 17.jpg

    Imagem