António Faria. O Desenho, força que nasce do silêncio

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Apresentação

Num cenário de práticas e programações vinculadas à contemporaneidade artística, a iniciativa e recetividade do museu do Côa às envolventes obras de António Faria possibilitam, numa época singular e exigente, uma experiência exploratória de possíveis modelos de encontro e proximidade, nos caminhos da arte, da ciência e da tecnologia. a generosa escala do espaço permite a exposição de obras de grandes formatos, que nos abraçam por completo e que parecem quase capazes de, como diz o artista, “engolir uma pessoa”. Não nos devemos, contudo, inquietar. A sensação que experimentamos no encontro com estes desenhos não é ameaçadora, mas benévola. António Faria (Lisboa, 1966) começou cedo a projetar em imagens a força do vento, o movimento e a ação. Alguns dos seus trabalhos (como é o caso de muitos dos que aqui se podem ver), de composição modular, são feitos por partes, mas constituem um só desenho, uma só ideia. A perceção da sua totalidade apenas acontece quando são expostos em conjunto, dando assim a ideia de um registo amplo, imersivo. O seu processo de desenho é muito fluido. Mantém um diálogo contínuo e aberto de expressão com os trabalhos. A estrutura da obra e a natureza da cor caraterizam um lado muito emocional e a ideia de fechado, visíveis através da vibração luminosa, que o artista consegue na criação desta rede de desenho em que a luz vai espreitando por entre os espaços riscados que constituem a representação de troncos, ramos, folhagem. Nestas paisagens, em que o artista explora a melancolia e sensação de espaço fechado, pela densidade do traço sobre a superfície do papel, usando a natureza para a representar de modo puramente emocional, sentimo-nos a mergulhar na floresta. o espaço da obra confunde-se, assim, com o da nossa imaginação, testemunhando em primeira mão aquilo que o artista há muito percebeu: tudo é desenho. Emília Ferreira